O relatório da curadoria da 28ª Bienal de São Paulo, dirigido à própria Fundação Bienal, sugere "revisão do modelo administrativo da fundação", que passa por crise política, tem dívidas de mais de R$ 4 milhões e ainda não garantiu a participação do Brasil na Bienal de Veneza.
O documento assinado pelos curadores Ivo Mesquita e Ana Paula Cohen é uma compilação de discussões desenvolvidas em três séries de conferências desenvolvidas antes e durante a Bienal, que ocorreu entre 26 de outubro e 6 de dezembro de 2008 e ficou conhecida como Bienal do Vazio e foi marcada por uma invasão de pichadores no dia da abertura.
A produção desse relatório era prevista desde o início do projeto "Em Vivo Contato" para a 28ª Bienal, que pretendia levar para dentro da própria exposição a discussão sobre seu modelo, com a exposição de catálogos de outras bienais e debates ao longo da mostra. "Nossa idéia é que ao final da 28ª Bienal seja produzido um documento a ser encaminhado para a fundação com algumas sugestões e recomendações que nós do meio artístico brasileiro fazemos. A execução disso cabe à Fundação Bienal. Pretendemos tomar esta Bienal como um espaço de discussão e de sistematização dessas críticas e questões", explicou Ivo Mesquita em entrevista ao UOL antes do início da exposição.
As sugestões do relatório da curadoria são bastante objetivas quando levantam a necessidade de transformações nos métodos administrativos da instituição, presidida por Manoel Pires da Costa, que deve deixar o cargo em breve, mas ainda sem nome confirmado para substituí-lo.
"A revisão da estrutura organizacional e do modelo de gestão administrativa da Fundação Bienal, que apareceu diversas vezes ao longo do debate como algo urgente, deve ter como objetivo imprimir racionalidade, planejamento e um caráter programático para tornar efetiva e sistemática a realização da exposição Bienal, adotando métodos e procedimentos transparentes, orçamentos controlados e realistas, e buscando eficiência e aprimoramento na implementação dos objetivos prioritários da instituição", destaca o relatório.De forma geral, o relatório reafirma a importância da exposição no cenário artístico nacional, mas indica que mudanças em seu modelo são fundamentais.
"O futuro da exposição Bienal passa por reformas profundas na Fundação Bienal, que dependem, sobretudo, da atuação de sua diretoria e do seu conselho, mais do que da curadoria. Há uma pergunta que a comunidade artística gostaria de fazer, a cada conselheiro da Fundação: Qual o seu papel dentro da instituição? Foi sugerido que a Fundação Bienal deveria possuir um código de obrigações e procedimentos para seus conselheiros", destaca o item relativo às recomendações do "Ciclo A Bienal de São Paulo e o Meio Artístico Brasileiro - Memória e Projeção"."Não há como negar que os objetivos a que a mostra periódica criada em 1951 se propunha, foram plenamente alcançados: São Paulo é um centro artístico internacional e os artistas brasileiros são participantes ativos no circuito globalizado das artes visuais hoje. Que papel pode, então, ter agora a Bienal de São Paulo diante de uma nova ordem profissional, técnica, econômica, institucional que ela própria ajudou a construir aqui e serviu de modelo em outros lugares?", questiona o documento em sua conclusão.
Com participações de artistas, críticos e curadores brasileiros e estrangeiros, as conferências "Bienal de São Paulo e o Meio Artístico Brasileiro - Memória e Projeção", "Backstage" e "Bienais, bienais, bienais" procuraram discutir o papel da Bienal de São Paulo no contexto nacional e seu modelo, em comparação a outros eventos artísticos mundiais.
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