sábado, 26 de setembro de 2009

UM POUCO SOBRE O PROJETO PALAVRA DE UM SÓ MOMENTO PARA UM ESPÍRITO HUMANO QUE DESEJA ARDENTEMENTE


Projeto da Palavra no RN


O projeto Palavra de um só momento para um espírito humano que deseja ardentemente, ou mais conhecido como Projeto da Palavra, já passou por algumas cidades brasileiras. Sua primeira participação oficial em uma programação artística aconteceu no Salão de Maio, em 2005, promovido pelo coletivo GIA, em Salvador/BA. Antes disso, porém, foi executado em algumas localidades dentro da percepção de alcançar a interação humana no convívio social urbano.


Projeto da Palava na PB


O Projeto da Palavra intenta estabelecer um fluxo de comunicação ao mesmo tempo que propõe um jogo ao expectador interativo que deverá expor-se através de sua mensagem em um papel e ao mesmo tempo gerar um olhar sobre a vida. O objetivo principal é provocar a reflexão das pessoas em torno de si mesmas e de seu espaço urbano (coletivo/individual). As mensagem são o ponto de continuidade do jogo/fluxo.


O artista Abraham Palatnik participando do Projeto da Palavra


A ação começa quando abordo uma pessoa na rua e entrego-lhe uma mensagem escrita (por um outro participante, antes deste, abordado também nas ruas). De posse dessa mensagem o novo participante terá que me escrever uma outra mensagem em um novo papel que lhe entrego. Esta nova mensagem não tem tema definido – tanto pode ser um protesto pessoal, um xingamento, uma frase feita, uma palavra, um sonho, enfim...qualquer coisa .

Dentro do ônibus, em Vitória/ES

A mensagem que lhe foi entregue fica com o participante e a nova mensagem escrita fica comigo até abordar uma outra pessoa na rua que seguirá o mesmo processo. Entrego-lhe a mensagem e recebo uma nova. As mensagens não são datadas ou assinadas e as pessoas não sabem para quem a mensagem seguirá.


Eu (de branco) executando o projeto no ES


Desta forma os participantes são abordados em seu cotidiano e anonimato – ida ao trabalho, escolha, shopping, lanchonetes etc – e são tirados de seu movimento diário de circulação absorto em problemas, expectativas e anseios para uma reflexão em torno de seu universo que, por sua vez, reflete o entorno, a cidade e seu cotidiano e será entregue a alguém que ela nunca viu.

Cada frase ou mensagem escrita é transcrita e fotografada como registro da ação. As folhas com as mensagens originais, como dito anteriormente, são entregues a cada pessoa abordada nas ruas. Desta forma o original é repassado ao participante. Fico apenas com o meu registro (transcrição) das mensagens e o fotográfico e assim tenho um fluxo estabelecido. Portanto, desde a primeira mensagem consigo compor um painel sobre pensamentos, desejos, sonhos, angústias e as mais variadas emoções do brasileiro e ao mesmo tempo um mapa geográfico dessa subjetividade. É um pequeno retrato de nosso povo.

Projeto da Palavra no Pelourinho/BA


Uma outra questão importante é que a ação acontece no ambiente das ruas, avenidas, praças, ambientes abertos às ruas, calçadas nas quais as pessoas são abordadas, embora também possa acontecer em ambientes fechados como projetos específicos. Este ir e vir, enquanto caminho como um Flâneur descobrindo a cidade e a realidade das pessoas ao mesmo tempo em que elas me descobrem e se interessam pelo projeto, que geram uma magnitude expressa nos olhos, entonação e palavras (ora escritas ora verbalizadas) que me são oferecidas. Estabelece-se uma troca afetiva. As frases são escritas em papel toalha, uma vez que a ação diária demonstrou que este material, por conferir certa informalidade, gera uma sensação de conforto e descontração. As tentativas de mensagens com papel ofício ou blocos de papel com área delimitada para as mensagens não foi interessante por caracterizar inconscientemente algum tipo de pesquisa...e resistência. Percebi que o fato do papel ser informal, favorecia a participação no projeto.


Projeto da Palavra em SP

Ao abordar as pessoas na rua percebo uma grande surpresa e certa apreensão. Receber a mensagem de uma pessoa que ela nunca viu é intenso na medida em que compõe o universo referencial deste indivíduo. As frases expressas são um indicativo de cada um quase como uma pista de quem cada um é. No momento que têm que escrever algo estabelece-se o ato de se expor, de revelar ao outro (que não se sabe quem é) uma parte de si.



Fotos: Jean Sartief

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